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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

P.S.

Não use tantas
metáforas que
o poema fica

grande demais
pra ser entendido
Vê se esquece as
aspas e
começa a escrever
teu próprio
caminho!
Palavra que é poeta
só aceita ser
moldada com ferro
e brasa
Espuma branca e
banheira
só pra quem quer
recompensa rápida
Pensa bem mas
pensa pouco
senão a letra foge
Anota com ternura
e delicadeza
tudo que pode
e rasga a folha
com o que não deve
ser lido
Esteja poema
até que o último
verso seja escrito
e deixa o ar
no fim
para quem quiser
post-scriptum

Sheila Emilia

domingo, 16 de agosto de 2015

Céu de giz

- Entra logo! Já é quase feriado de novo e você continua colorindo esse céu de azul!
- Mas é pra deixar o mundo mais calmo. Você não gosta de paz?
- Não.
- Por quê?
- Porque ela atravessa a rua toda vez que eu chego... Anda logo, menino! Guarda esse giz! Depois vem me pedir mais que eu não dou!
- Peraí! Já 'tô quase acabando... Cadê o giz amarelo?
- Pra quê giz amarelo?
- Pra colorir o sol. Ou você acha que o sol também é azul? Ou verde?
- Menino... Pode parar de rir de mim, tá ouvindo? Depois eu te dou uma surra que você vai aprender a respeitar os mais velhos!
- ...
- Aquele menino não me escuta... Não me respeita... Passou o feriadão inteiro pintando o muro de azul... Você acredita que eu disse que daria uma coça de vara nele e ele riu de mim? Com aquele sorriso mais feliz ainda? Você conhece menino mais abusado que esse? Ontem eu falei pra ele que a primeira chuva ia acabar com o céu dele todo... Sabe o que ele respondeu? Que 'tava tudo bem. Junho quase não chove. E mesmo que chovesse. "Com certeza um pedaço de céu continua aqui pra ser refeito de novo. No zero eu nunca fico". E falou assim, todo confiante... E sabe o que ele disse pra mim antes d'eu vim pra cá? Que se a paz um dia gostar de atravessar a rua quando ele passar ele vai pintar o muro de tinta pra ela não conseguir fugir dele. Porque sempre que ela tentar escapar ele vai olhar pro muro e saber que ela 'tá aprisionada ali.
- E você deixou ele falar isso com você?
- Deixei, né? Não ia adiantar nada falar pro menino que paz a gente não prende...
- Então você não fez nada?
- Claro que fiz! Comprei uma caixa de giz colorido nova pra ele usar. Já quase acabou com os giz que ele ganhou na pescaria da festa junina... 'Tá colorindo cada pedacim do muro, depois você olha lá. 'Tá até ficando bonito mesmo... Se você parar pra olhar bem, até que o tal céu acalma a gente mesmo...
- 'Tô falando que menino só faz bagunça...
- Sabe de uma coisa? Adulto também.
- Mas é diferente...
- Verdade. As crianças tentam escapar da sujeira.
E colocou a caixinha embrulhada de presente com o giz em cima do parapeito da janela.
-
Sheila Emília

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

MARGEM

Eu tombei
no beiral
a beira da vida
me olhava
com rosto de quem
não quer me
ter por perto
Os marginais me
achavam muito chula
para ser
poeta
e muito crua
para ser
viva
Eu
que enquanto escrevia
era o centro
das atenções
desviei das canetas
por um tempo
somente
para lhes d(ar)

Sheila Emília

Carta a uma jovem menina

O caminho não é o das estrelas. Eu sei porque já caminhei bastante por ele. É mais reto a cada esquina. Principalmente se você resistir à queda "livre" do volume. Não tem calçada da fama quando você sai com uma "arma"na cabeça. Eles dizem que estar armada é um problema (usam os tais "controles de frizz" que você deve conhecer de uma forma ou de outra nos próximos anos). Mas se você estiver disposta a observar vai saber que ela é uma das soluções. Seu cabelo será uma arma de resistência. Arma que poderá ser usada para qualquer ferro que tentarem colocar na sua cabeça. E qualquer preconceito que tentarem lançar em você.

Quando você perceber que não são só as estrelas de Hollywood que devem brilhar, menina... Digo que vai estar pronta para saber que as modelos francesas e você não precisam ser parecidas. Nem na altura, nem na largura, nem no volume, nem na massa... Veja bem. Quando você puder se olhar no espelho sem maquiagem, sem escova, sem saltos e saber que ainda é maravilhosa vai estar no caminho. No caminho de entender que você é um cubo que pode ser preenchido com o que tiver vontade. E que pode ser jogado para o lado que quiser.

Menina. Quando chegar a hora de você perceber que tanto seu cabelo quanto seu corpo é seu você estará livre para abrir a sua caixa e deixar quem quiser entrar. Pode ser azul ou rosa. As cores são suas. Aliás. Quando você chegar neste ponto, não só as cores, mas o mundo poderá ser seu.

Mas até lá, menina... Até lá, entenda. Tudo é processo. Tudo é caminho. Para muito além do sucesso. Para o espelho reletir muito mais que um rosto. Refletir o que ninguém pode ver ou saber que existe: você. O tesouro mais especial que existe. O tesouro que mais vale a pena ser construído e conquistado.

Com carinho e votos de confiança,
Eu.

(Sheila Emília)