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domingo, 16 de agosto de 2015

Céu de giz

- Entra logo! Já é quase feriado de novo e você continua colorindo esse céu de azul!
- Mas é pra deixar o mundo mais calmo. Você não gosta de paz?
- Não.
- Por quê?
- Porque ela atravessa a rua toda vez que eu chego... Anda logo, menino! Guarda esse giz! Depois vem me pedir mais que eu não dou!
- Peraí! Já 'tô quase acabando... Cadê o giz amarelo?
- Pra quê giz amarelo?
- Pra colorir o sol. Ou você acha que o sol também é azul? Ou verde?
- Menino... Pode parar de rir de mim, tá ouvindo? Depois eu te dou uma surra que você vai aprender a respeitar os mais velhos!
- ...
- Aquele menino não me escuta... Não me respeita... Passou o feriadão inteiro pintando o muro de azul... Você acredita que eu disse que daria uma coça de vara nele e ele riu de mim? Com aquele sorriso mais feliz ainda? Você conhece menino mais abusado que esse? Ontem eu falei pra ele que a primeira chuva ia acabar com o céu dele todo... Sabe o que ele respondeu? Que 'tava tudo bem. Junho quase não chove. E mesmo que chovesse. "Com certeza um pedaço de céu continua aqui pra ser refeito de novo. No zero eu nunca fico". E falou assim, todo confiante... E sabe o que ele disse pra mim antes d'eu vim pra cá? Que se a paz um dia gostar de atravessar a rua quando ele passar ele vai pintar o muro de tinta pra ela não conseguir fugir dele. Porque sempre que ela tentar escapar ele vai olhar pro muro e saber que ela 'tá aprisionada ali.
- E você deixou ele falar isso com você?
- Deixei, né? Não ia adiantar nada falar pro menino que paz a gente não prende...
- Então você não fez nada?
- Claro que fiz! Comprei uma caixa de giz colorido nova pra ele usar. Já quase acabou com os giz que ele ganhou na pescaria da festa junina... 'Tá colorindo cada pedacim do muro, depois você olha lá. 'Tá até ficando bonito mesmo... Se você parar pra olhar bem, até que o tal céu acalma a gente mesmo...
- 'Tô falando que menino só faz bagunça...
- Sabe de uma coisa? Adulto também.
- Mas é diferente...
- Verdade. As crianças tentam escapar da sujeira.
E colocou a caixinha embrulhada de presente com o giz em cima do parapeito da janela.
-
Sheila Emília

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